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FORÇA MARTINHO

Internado num hospital em França, Martinho Silva, 77 anos, aguarda, há três anos, que a Justiça portuguesa resolva indemnizá-lo. Atingido por uma bala perdida, no assalto ao Museu do Ouro, ficou paraplégico. A família diz, ao JN, que desde então ele só deseja a morte.


Paraplégico vítima do assalto ao Museu do Ouro reza para morrer

Martinho Joaquim da Silva, então com 74 anos, naquele dia de Agosto de 2007, cansado dos preparativos da mudança de casa, em Le Creusot, 160 quilómetros a Norte de Lyon, desabafou para a mulher: "Maria, vamos passar uns 15 dias à nossa terra".

Dias depois, a 7 de Setembro de 2007, estava, como é vulgar dizer-se, no local errado e à hora errada, acaso maldito. De repente, vê-se envolvido numa cena de tiros entre polícias e um gangue fortemente armado que roubou 700 mil euros em objectos de ouro de uma ourivesaria e do Museu do Ouro.

Atingido por uma bala perdida que se alojou junto à coluna, Martinho Silva ficou com a vida ao contrário. Acordou paraplégico, no Hospital de S. Marcos, em Braga.

No tiroteio, um agente da PSP também ficou ferido e um dos assaltantes foi baleado e morreu horas depois.

Três anos depois, aquele que a família e os amigos dizem ter sido um dinâmico emigrante que se reformou ao fim de vários anos como electricista, sempre disponível para ajudar os outros, está preso a uma cadeira de rodas, quase sempre triste e amargo, muitas vezes diz, a mulher, ao JN, "desejando a morte, para acabar com o sofrimento". Actualmente, está internado no hospital.

A juntar ao seu tormento, muitas queixas contra o atraso da Justiça em indemnizar um cidadão vítima de crime violento.
"Meu Deus, nem um tostão o Estado português nos deu, nem sequer para pagar um pijama e ele muda um quase todos os dias", desabafa Maria das Dores Viana Pacheco, de 80 anos, natural de Ponte de Lima, também terra natal do homem de quem teve dois filhos.

"Estou satisfeita por terem condenado os assaltantes, mas revoltada com eles porque se não tivessem feito o roubo não tinham baleado o meu marido. O assalto em Viana arruinou a vida ao meu marido e a mim", acrescenta Maria das Dores, preocupada com o estado de saúde de Martinho, de quem diz ouvir quase diariamente o pungente desabafo: "Porque é que o Polícia não me deu uma segunda bala para me matar".

O desencanto do pai também preocupa Rosa Maria, 46 anos, filha também emigrante em Le Creusot: "O meu pai sofre tanto que todas as noites reza a Nossa Senhora de Fátima para morrer. Desde que foi baleado em Viana, não tem força para viver. "
Três anos depois, os serviços do Ministério da justiça colicitam o NIB da sua conta bancária para depositar 17500 euros destinados aos primeiros cuidados de saúde, mas não depositaram o dinheiro.

"Estão à espera que ele morra?", pergunta Joaquim Fernandes, 65 anos, bracarense, emigrante desde os 17. "Os assaltantes foram condenados, o Polícia, coitado, exercia o seu trabalho, mas ele é que não tinha com o assunto e ficou paraplégico. Diz que a vida para ele já não tem valor", acrescenta Joaquim, que lamenta: "Escreva que este caso demonstra como a Justiça, em Portugal, é tão lenta que se torna injusta".

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